Repudiamos o fato do governo de
Minas Gerais marcar as duas audiências públicas sobre o licenciamento da
Samarco - para a disposição de rejeitos (por um ano e meio) na cava quase
exaurida "Alegria Sul" ou "Alegria E" - bem na véspera do
período de Natal/Ano Novo, férias escolares e recesso do judiciário e ao final
de um ano com grande instabilidade política, econômica e social. As
datas foram orquestradas para contar com a comoção daqueles que, com a crise na
economia (especialmente em Mariana), estão encurralados e sem perspectiva de
mudanças.
Repudiamos
também o licenciamento ser retomado de forma fragmentada, sem avaliar o
Complexo da Germano/Alegria como um todo e alternativas tecnológicas ao
beneficiamento a úmido e sem o cumprimento da reparação dos impactos do
rompimento. Sobre a disposição na cava, nos perguntamos: se ela pode receber
rejeito para a retomada das atividades, sem afetar o lençol freático e com
segurança, deveria receber a lama do rompimento da barragem do Fundão que
continua depositada ao longo dos rios Santarém e Gualaxo do Norte e vai
descendo ao longo dos rios do Carmo e Doce. Afinal, foi alegando a urgência de
impedir que essa material chegue a Candonga que o governo de Minas autorizou o
Dique S4, que vai soterrar grande parte do que restou intacto em Bento
Rodrigues, contra o anseio dos moradores.
É justo que uma empresa acusada de
“homicídio qualificado com dolo eventual” - que assumiu o risco de matar -
volte a funcionar como se nada tivesse acontecido? Sem ter se empenhado na
retirada dos rejeitos onde eles ficaram jogados? Sem ter atendido devidamente
os impactados, de Bento Rodrigues até a foz do rio Doce? E ainda tendo
regateado e recorrido sistematicamente do pagamento de multas?
Até quando o MAIOR DESASTRE
AMBIENTAL da história de Minas Gerais e do Brasil será tratado desta forma
vergonhosa? Até quando o homicídio de 20 vidas (entre elas 2 crianças e uma em
gestação) não justificará a devida punição? Até quando a tragédia vivida pelos
moradores de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e dos vales dos rios Gualaxo e
Carmo será tratada com tanto desrespeito?
Até quando o sofrimento de milhares de pessoas, a tristeza de
pescadores, ribeirinhos, dos povos Krenak e Tupiniquim e o ecocídio do rio Watu
(o Doce na denominação indígena) serão tratados de forma irresponsável e menor
pelos que correm pela retomada das operações da empresa, sem revisão do modelo,
sem pagamento de obrigações, sem reparação dos estragos ambientais e sociais? Até
quando empregos para uma população propositalmente refém da mineração vão
justificar novos riscos e perdas ambientais e sociais, inclusive com reflexos
no futuro?
A Samarco, que é Vale S.A. e BHP
Billiton, assumiram riscos muito graves e agora devem pagar pelo CRIME. Ao
transferir suas responsabilidades criminais para uma fundação batizada com o
nome “Renova”, a Samarco e suas controladoras Vale e BHP Billiton projetaram
jogar nas nuvens do esquecimento o seu nome como as verdadeiras criminosas. E transferir
o ônus do crime para os atingidos ou o meio ambiente tem um nome: covardia.
Somos solidários a todos os
atingidos e ao meio ambiente impactado e estamos indignados com o CRIME
cometido pela Samarco-Vale-BHP Billiton e a forma como essas empresas e grande
parte das autoridades vêm conduzindo há mais de um ano as ações após o
rompimento da Barragem do Fundão, que NÃO FOI ACIDENTE.
Belo Horizonte, 14 de dezembro de
2016
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