MÃE D'AGUA


FAZENDA MÃE D, AGUA
“O tempo real é medido pela intensidade” (Mestre Sarvananda)
Foi em 1982 que tomamos conhecimento desta região do Vale do Paraopeba, sem saber que esse era seu nome. Viemos pela estrada BH-RJ, e após o trevo de Ouro Preto, entramos à direita frente a Lagoa dos Ingleses.
Inesperadamente apareceu aquele cenário deslumbrante que nos deixa sem ar até hoje: montanhas, vales e céu. E fomos descendo, descendo, até que à nossa direita uma porteira aberta com placa anunciava: FAZENDA MÃE D,AGUA. REFÚGIO DE ANIMAIS SILVESTRES E RESERVA BIOLÓGICA.
Entramos. Um caminho de terra de uns 500 metros levava a um setor de hortas que se encontravam à esquerda de quem desce. Um pouco mais a frente e à direita, mais no alto, uma casa com varanda e plantas. Era a casa sede.
Um terreno grande se estendia para baixo com água correndo por caneletas e muita vegetação.
Mais embaixo uma área plana coberta que era um grande refeitório com mesas e fogões à lenha onde eram asados deliciosos pães integrais. Até hoje lembro o gosto de aqueles pães.
Perto deste lugar havia uma construção que semelhava uma banheira estreita onde a água que descia de uma das cachoeiras era represada e passava borbulhando ruidosamente e onde colocávamos as crianças para brincar.
Era uma festa.
A horta produzia hortaliças frescas e sem “química” como falávamos então. Cenouras amarelas e cheirosas, miúdas, claro, sem agrotóxicos, como todos desejavam. Comiamos até as folhas o mesmo com as beterrabas. Que deliciosas as croquetes da folha da beterraba...Já experimentaram?
Bom,. E as cachoeiras? Fico sem palavras para descrever sua altura, volume de água, cores, os arco-íris formados pela chuva fina e o vapor que saia das cascatas rodeadas de uma natureza selvagem.
Os residentes recebiam instrução de Yoga e técnicas de meditação.
 Na MÃE D,AGUA conheci muitas pessoas interessantes.
Em primeiro lugar os donos: Georg Kritikós (Swami Sarvananda) mestre do yoga pioneiro em Belo Horizonte. Em 1975 fundou a Comunidade Rural e Alternativa Mãe D, água reconhecida como de utilidade pública estadual e registrada como Refúgio de Animais Silvestres e Reserva Biológica, no INCRA.
Muitos dependentes de drogas e álcool foram recuperados com a vida rigorosa e sadia que se levava na Mãe D, água. Desenvolviam atividades diversas como agricultura, horticultura e fruticultura naturais.
Daya, companheira de Georg, trabalhadora incansável, cuidava da tudo: horta, cozinha, plantas, crianças. Uma mulher forte. Conversava muito com Daya.
José Lutzenberger, ecólogo gaúcho, engenheiro agrônomo, visitou à Mãe D, água naquele tempo. Primeiro brasileiro a conquistar o “Livelihood Award” da academia sueca que concede o “Nobel Alternativo”. Depois de trabalhar para a indústria dos agroquímicos e agrotóxicos, deu-se conta do que estava fazendo com o ambiente, abandonou o emprego e partiu para a defesa de meios não agressivos e sustentáveis para o desenvolvimento.
O vimos algumas vezes, quase nu, trabalhando nas hortas.
-“ Por que eu sempre nado contra a corrente? -Porque só assim se chega às nascentes”.
Thiago, um amigo que nos ensinou apicultura. Chegamos a produzir mel em grande quantidade com colméias colocadas no Retiro do Chalé.
Bart me desculpe se escrevi seu nome errado era o autor dos deliciosos pães. Um exemplo de paz e poucas palavras.
Edinéia e João Bosco com seus quatro filhos freqüentavam a Mãe D, água tanto quanto nós e também moravam no Retiro.
A comunidade da Mãe D, água iniciou uma escola de alfabetização para crianças da região.
A Mãe D, água fechou suas portas em 1986.
Georg Kritikós faleceu em Curitiba em Abril de 1999.
Maria Cristina Vignolo