Mais de 120 toneladas de poeira de minério de ferro são retiradas mensalmente na varrição do município de Congonhas, na Região Central do Estado. O volume, que é capaz de encher as carrocerias de pelo menos 10 caminhões, é um triste saldo para a população, trazido pelo aumento da produção de mineral na cidade. Moradores reclamam do descaso das empresas responsáveis pela exploração. No dia 7 de setembro, centenas deles organizaram uma passeata pelas ladeiras históricas do município para cobrar soluções. A Avenida JK, principal entrada da cidade, é só poeira. Por causa do grande número de veículos, até engarrafamento se vê.
A equipe do HOJE EM DIA esteve em Congonhas e foi procurada por vários moradores, que reclamaram do problema. Muitos deles assumem que trabalham nas minas e que, mesmo com o emprego promissor, o impacto da produção acarreta péssima qualidade de vida.
Carros, caminhonetes e ônibus aparecem encobertos com poeira e deixam rastro pelas ruas. Para quem dirige, basta fechar a janela. Para pedestres e comerciantes, a poluição é uma visita que não tem como ser deixada do lado de fora.
Uma comerciante da área central da cidade, que pediu para não ser identificada, disse que precisa lavar o piso da lanchonete duas vezes por dia. "Nos últimos quatro anos, a poeira aumentou muito.
No Bairro Dom Oscar, próximo da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), é pior ainda", apontou. Conforme previsão do prefeito da cidade, Anderson Cabido, se o problema não for solucionado, a tendência é que piore, especialmente depois que mais uma grande mineradora, a Ferrous, começar a atuar na região em 2011. "Teremos investimentos em mineração, nos próximos cinco anos, da ordem de R$ 25 bilhões", diz.
Cabido diz que por causa da poeira, o sistema de limpeza urbana fica sobrecarregado e que toneladas de pó de minério são retiradas das ruas diariamente. "As mineradoras não contribuem em nada para resolver o problema", denuncia.
O prefeito acredita que cerca de 80% da substância é depositada pelas rodas dos veículos da área de operação das minas. "Caminhões e carretas estão proibidos de circular na área central da cidade há quatro anos", salienta. O prefeito enumera que atualmente estão no município a CSN, a Vale e outras três mineradoras menores.
Em nota, a CSN informou que possui diversos controles para emissão de poeira para a atmosfera na cidade. Dentre esses, a constante aspersão de água nas vias de tráfego, pilhas e demais áreas não pavimentadas da mina e a aplicação de polímeros para reduzir as consequências da ação dos ventos.
A CSN informou ainda que contratou uma empresa especializada para diagnosticar as fontes de emissão.
Já a Vale justificou que a atuação da sua planta industrial está a 18 quilômetros do núcleo urbano de Congonhas. Mas que, mesmo assim, faz parte da rotina da operação o monitoramento contínuo de emissão de partículas e de ruídos.
A poeira também é um problema para o gerente administrativo Adriano Ferreira de Oliveira Neto, que mora em Conselheiro Lafaiete, mas que trabalha na área central de Congonhas. "Desenvolvi sinusite, rinite, todas as 'ites' possíveis por causa dessa poeira", lamenta. Para a pneumologista Geralda Calazans, o pó do minério realmente traz problemas de irritação para o sistema respiratório, que são mais graves em alérgicos. "Isso acarreta uma inflamação que sempre volta. A pessoa não tem boa qualidade de vida pois sempre terá alguma infecção", diz.
Cabido informa que pediu um estudo para as mineradoras para saber quais são as estratégias que elas vão seguir para diminuir a emissão de poeira. "Há medidas que são paliativas, como a instalação dos 'lava rodas', equipamentos que lavam os veículos que saem das minas. O prefeito anunciou que, ontem, o Ministério Público Estadual (MP) instaurou um inquérito civil público para negociação da instalação dos equipamentos. "Estávamos tentando conversar com as empresas mas não tínhamos sucesso", diz. Com a Ferrous, a prefeitura já assinou um termo de compromisso com o MP, para que ela pudesse fazer um monitoramento do ar em diversos pontos da cidade identificando a origem da poeira.
Atualmente, o município histórico ostenta monumentos reconhecidos mundialmente, entre eles, os 12 profetas em pedra-sabão, tombados pelo Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido em 1985, pela Unesco. Para reforçar o protesto contra a poeira realizado no dia 7 de setembro, manifestantes colocaram uma máscara no rosto de uma réplica da imagem de um dos profetas, instalada na entrada da cidade, na BR 040.
*Matéria de Elemara Duarte, originalmente publicada no jornal Hoje Em Dia, 10-09-2010.