Cerca de 10 mil pessoas são esperadas para abraço simbólico na Serra da Moeda
A 9ª edição do
projeto Abrace a Serra da Moeda, organizado pela ONG de mesmo nome, se firmou
como um grande ato público para alertar sobre a importância da preservação
ambiental na região de Brumadinho. A entidade defende a reserva de água e
qualidade de vida das famílias que vivem na Serra. Todos são convidados a
participar
Será no dia 21
de abril, quinta-feira, a partir das 10h, o esperado abraço simbólico em favor
da preservação da Serra da Moeda, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Minas
Gerais. A 9º edição do Abrace a Serra da Moeda, organizado pela ONG Abrace a
Serra da Moeda, deverá receber cerca de 10 mil pessoas, entre comunidades,
ambientalistas, esportistas e amantes da natureza que, vestidas de branco,
criam um momento de arrepiar: todos juntos de mãos dadas formam um grande
cordão humano no cume da Serra da Moeda, na região conhecida como Topo do
Mundo, com um único objetivo: a defesa de mais de 30 Nascentes na região,
contidas no Monumento Natural Municipal da Mãe D'água, que servem de
abastecimento de cerca de 10 mil famílias na encosta da Serra e recarga hídrica
da bacia hidrográfica do Rio Paraopeba, que abastece a Grande BH, e sofrem com
a exploração mineral. O encontro que já está no nono ano tem conseguido impedir
a retomada da mineração nessa região.
“Atualmente
nossa reivindicação é pela criação do Monumento Natural Estadual da Mãe D'água,
como forma de proteger as comunidades que se opõem aos projetos de exploração
que possam afetar as nascentes do Monumento, como por exemplo, a exploração
mineral na Serra da Moeda, a Fábrica da Coca Cola e o empreendimento de
expansão urbana da Csul”, explica a presidente da ONG Abrace a Serra da Moeda,
Maria Cristina Vignolo. O Monumento é o instrumento jurídico capaz de garantir
a proteção integral e efetiva da região, permitindo que as vocações locais
continuem a crescer, como o turismo, a gastronomia rural, a agricultura
familiar, os esportes radicais, o polo ceramista, entre outras atividades que
encontram, neste lugar, terreno fértil para se desenvolver. "A mobilização
é importante para fazer com que o poder público não ceda às pressões e acabe
autorizando o avanço de atividades econômicas degradadoras nessa região, que
deve ser protegida", explica.
A ONG Abrace a
Serra da Moeda esse ano também questiona a repentina queda na vazão das
nascentes que abastecem as comunidades de Suzana e Campinho, em Brumadinho, na
encosta da Serra da Moeda, após o início das operações dos poços tubulares que
abastecem a fábrica da Coca-Cola em Itabirito (MG). Os poços de água que
abastecem a indústria estão a menos de mil metros das nascentes localizadas no
Monumento Natural Municipal da Mãe d'Água.
Liminar garante
o Monumento Natural Municipal da Mãe d’Água
Atualmente, o
Monumento Natural Municipal da Mãe D´água está em vigor graças a uma liminar
dada em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Minas
Gerais. A ação judicial foi ajuizada em razão da revogação ilegal do Decreto
Municipal que criou o Monumento Natural pelo Prefeito de Brumadinho, três meses
após a sua criação.
Desastre
ambiental em Mariana -MG
O Abraço este
ano também vai lembrar a ruptura da barragem de rejeitos da empresa Samarco
(Vale/BHP), em Mariana, na região Central de Minas e as terríveis consequências
ambientais do acidente.
Embora seja a
maior tragédia na história da mineração, a subserviência dos Poderes Públicos
permanece a mesma. O recente acordo às portas fechadas firmado entre a União,
Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e as mineradoras envolvidas demonstram
o quanto podemos nos surpreender.
A punição
exemplar esperada pela sociedade brasileira aos responsáveis por esse crime
ambiental de grandes proporções ainda não se concretizou.
Por esperarmos
que essa tragédia seja um divisor de águas no modelo de desenvolvimento
econômico de Minas Gerais, o abraço à Serra desse ano não poderia deixar de
abordar esse fato que marcou a nossa história.
O dia 21 de
abril e a Mobilização das Comunidades
No dia 21 de
abril, que foi escolhido de forma proposital, já que a inconfidência mineira
simboliza a luta dos mineiros contra a exploração de seus recursos naturais,
milhares de pessoas deixarão suas casas para subir no topo da montanha e lutar
pela preservação ambiental da região. Mais de 10 ônibus sairão das comunidades
da região levando a população que deseja ter voz, inclusive, os quilombolas. No
entorno da Serra da Moeda há várias comunidades remanescentes de quilombos.
Serra da Moeda
abrange oito municípios
Localizada no
Quadrilátero Ferrífero e ao sul da cadeira de montanhas do Espinhaço, a Serra
da Moeda está a 25 quilômetros de Belo Horizonte. Com 1500 metros de altitude,
abriga inúmeras nascentes e uma vasta biodiversidade. A vertente de Brumadinho,
onde se realiza o abraço simbólico, vem se firmando também como um dos destinos
turísticos mais atraentes nas proximidades da capital mineira. A beleza cênica,
altitude, relevo e a condição climática tornaram o espaço ideal para a prática
de esportes outdoor, como voo livre, mountain bike, cavalgadas, caminhadas e a
gastronomia local transformou-se em outro grande atrativo turístico.
A preservação do
patrimônio natural, histórico e cultural da Serra da Moeda está ameaçada,
contudo, pelas atividades de mineração planejadas para a região e outros
empreendimentos degradadores. Um projeto de reativação da Mina da Serrinha,
localizada em Piedade do Paraopeba, pretendido pela empresa Ferrous Resources
do Brasil, provocará o rebaixamento do lençol freático e consequentemente o
esgotamento de nascentes e a diminuição da recarga do rio Paraopeba.
Além disso,
estudos técnicos demonstram que a mineração trará a degradação da paisagem,
instabilidade da encosta da Serra, poluição sonora, crescimento urbano
desordenado, emissão de poeira e colocará em risco a sobrevivência de espécies
de flora endêmicas e de fauna ameaçadas de extinção. O empreendimento afetará
também, especialmente, a vida de pessoas de comunidades do vale do Paraopeba,
vislumbradas pela empresa para receber instalações de alto impacto ambiental,
como pilhas de estéril, bacia de rejeitos, usina de beneficiamento e
mineroduto.
Sobre a ONG
A ONG Abrace a
Serra da Moeda desde 2008 trabalha em defesa das nascentes localizadas na Serra
da Moeda. Inicialmente como movimento popular, constitucionalizou-se em
associação civil em 2011.
Responsável pelo
abraço à Serra da Moeda, protesto realizado anualmente desde 2008, a ONG tem se
destacado pela defesa das águas e serras de Minas Gerais. Diante de uma
economia em crise, com baixa arrecadação de tributos, queda no preço do
minério, desemprego e inflação crescentes, as preocupações com o meio ambiente
e recursos hídricos passaram a ser secundárias para os órgãos públicos. O furor
arrecadatório do Estado, agravado pela crise econômica, coloca em risco a
segurança do povo mineiro, conferindo um caráter exclusivamente
político-econômico a um tema que envolve a sobrevivência das pessoas.
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