Fazenda dos Martins vai integrar roteiro cultural da Serra da Moeda

Fazenda na Grande BH vai ser salva da degradação
Fazenda dos Martins vai integrar roteiro cultural da Serra da Moeda
16/02/2012
Um importante patrimônio cultural do Vale do Paraopeba, na Região Central de Minas, será salvo da degradação e vai fazer parte de um roteiro cultural da Serra da Moeda. A Fazenda dos Martins, datada da segunda metade do século 18, que tem no entorno quatro comunidades remanescentes de quilombolas reconhecidas pelo governo federal, será restaurada. Para isso, um termo de ajustamento de conduta (TAC) foi assinado na tarde de ontem em Brumadinho, na Grande BH, pelos representantes do Ministério Público estadual (MP), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), Prefeitura de Brumadinho e donos da propriedade, com interveniência dos representantes de Sapé, Ribeirão, Marinhos e Rodrigues, para os quais a fazenda é referência cultural.


Segundo o promotor de Justiça da comarca de Brumadinho, William Garcia Pinto Coelho, já estão assegurados recursos de R$ 800 mil, provenientes de medida compensatória de empresas de mineração causadoras de danos ambientais à região. Os serviços de conservação deverão durar 12 meses e terão acompanhamento do Iepha. Dois dos aspectos mais importantes do TAC são que a propriedade, tão logo seja restaurada, poderá ser visitada pela população e, futuramente, vai abrigar o Centro de Referência da Cultura Negra. O município ficará encarregado de custear e montar um roteiro de visitas monitoradas e fazer o treinamento de adolescentes das comunidades quilombolas que vão atuar como monitores. A capacitação profissional será acompanhada pelo Iepha, responsável pelo tombamento do imóvel. O TAC foi precedido de inquérito civil público que investigou a situação do bem cultural localizado no povoado de Marinhos, a 30 quilômetros da sede do município.


Caberá à Diretoria de Conservação e Restauração do Iepha elaborar o projeto de recuperação arquitetônica e estrutural da Fazenda dos Martins; montar o programa de capacitação em conservação preventiva, destinado aos proprietários do imóvel; acompanhar e supervisionar o projeto do Centro de Referência da Cultura Negra; e criar, durante o processo de restauração, programa de visitação para as comunidades quilombolas, visando a conscientização histórica e patrimonial. “A Fazenda sempre foi, desde o século 18, muito importante para essas comunidades e todo o Vale do Paraopeba”, disse o coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcos Paulo de Souza Miranda, que também assinou o documento.


A fazenda será integrada a outros bens da Serra da Moeda, como o Forte de Brumadinho e a antiga casa clandestina de fundição de moedas. Marcos Paulo se preocupa com a situação do maciço, que corre o risco de entrar para a lista de monumentos mundiais em perigo, feita pela organização internacional World Monuments Fund (WMF). Em outubro, depois de sofrer com os incêndios florestais, a serra foi visitada por uma diretora da entidade criada em 1965 em Nova York para despertar a atenção internacional para heranças culturais de relevância necessitadas de assistência e proteção. (G.W.)



Erguida por escravos

Tombada pelo Iepha em 2 de julho de 1977, a Fazenda dos Martins é uma das construções rurais mais antigas do estado. O prédio passou por várias intervenções desde essa época. Constituída em alvenaria de pedra e paredes internas em pau a pique, a edificação tem dois salões, quatro quartos e um corredor central, além de trabalho apurado de cantaria na escada principal. Tem ainda muros altos de pedra circundando o pátio frontal e lateral. A Fazenda dos Martins já foi chamada de Casa Grande da Senzala. Segundo antigos moradores da região, sua existência está muito ligada à história do quilombo Sapé de Brumadinho e ela teria sido construída por escravos. Conforme apontam os registros históricos, foi projetada por alguém muito entendido de estrutura, pois seu dimensionamento é perfeito. Nos fundos, há um pátio interno, todo calçado de pedras. Da senzala, hoje, só existem vestígios: restos de muros de 10 metros aproximadamente.


Fonte: Estado de Minas - http://www.em.com.br