Incêndios castigam a Serra da Moeda e marcam mês de agosto

Mês do cachorro louco, do desgosto, das grandes tragédias. O mês de agosto, que por razões desconhecidas acabou sendo popularmente envolvido por uma mística de azar, foi este ano marcado negativamente pelas intensas queimadas que castigaram a Serra da Moeda, deixando comunidades alarmadas. Ou, para dizer melhor: a Bruxa esteve solta.
Desde o começo do oitavo mês do ano, focos de incêndio dispersos em diferentes partes da montanha, nos municípios de Nova Lima, Brumadinho e Moeda destruíram uma área ainda não calculada, mas que ultrapassa 400 hectares de vegetação nativa.
Na região de Nova Lima o fogo consumiu cerca de 9 hectares da mata, aproximando-se de residências do condomínio Serra dos Manacás e do Bairro Jardim Canadá, o que deixou a população local em alerta por mais de uma semana e ainda é motivo de preocupação.
A queimada de maior proporção na Serra da Moeda, Brumadinho, começou na tarde de 24 de agosto a partir de um foco próximo ao curso d’água conhecido como Biquinha  e que se estendeu até a mata adjacente ao Condomínio Retiro do Chalé, ao restaurante Topo do Mundo, à Pousada Estalagem do Mirante e à BR 040 .  Este incêndio, que destruiu grande extensão da montanha calculada até o momento em cerca de 200 hectares, atingiu também a estrada que dá acesso à Piedade do Paraopeba e ameaçou a nascente Mãe D´Água, que teve parte significativa de sua mata queimada.

Mobilização comunitária local é decisiva no combate aos incêndios
O desfecho deste triste espetáculo teria sido trágico não fosse a atuação conjunta da Brigada de Incêndio do Retiro do Chalé e de moradores locais que se mobilizaram no combate às chamas de vultosas  dimensões.
Tão logo se deflagrou o incêndio no dia 24, a equipe da Brigada do Retiro do Chalé- composta por funcionários do Condomínio, moradores da região- e a equipe da Diretoria de Meio Ambiente do Condomínio Águas Claras já estavam mobilizadas para impedir que o fogo alcançasse maiores proporções. O Corpo de Bombeiros também foi acionado para o trabalho de contenção das chamas, mas sua atuação, segundo voluntários que se empenharam em debelar as chamas por mais de cinco dias, foi muito lenta.
De acordo com o Diretor de Meio Ambiente do Condomínio Águas Claras, José Bones, que também atuou em conjunto com a Brigada do Retiro, “no primeiro dia o Corpo de Bombeiros chegou com uma pequena guarnição que se limitou a fazer uma ocorrência. Disseram que não adiantava combater, desanimando os brigadistas que continuaram na contenção das chamas”. No sábado voltaram ao local com helicóptero, mas com pequena equipe e pouco combustível para a aeronave. Nos dias seguintes e até o fechamento desta edição, surgiram outros focos de incêndio em regiões próximas ao Campinho e, na sexta feira, 02 de setembro, 4 focos de incêndio foram controlados por brigadistas e voluntários da região, no Recanto da Serra.
A ação comunitária tem feito a diferença, protagonizando o enfrentamento efetivo aos focos de incêndio. Em dia de fogo é bastante comum ver grupos de homens divididos entre os focos, procedendo ao resfriamento do local, a retirada de materiais de fácil combustão, quando espalhados ao longo da área incendiada (em incêndios próximos à estrada essa ação é muito comum) e no abafamento das chamas.
A Brigada de Incêndio do Retiro do Chalé, criada há mais de quinze anos pelo ex-condônimo Mario José Fernandes, mantém atualmente uma equipe com 24 brigadistas, sob a supervisão da Diretoria de Assuntos Comunitários do Condomínio. Além disso, o Condomínio Retiro do Chalé conta com uma estrutura própria, com mangueiras, trinta hidrantes e uma caixa d’ água com capacidade de 1.000.000 metros cúbicos de águas, destinados ao resfriamento e combate por aspersão, um dos métodos mais eficazes de combate ao fogo em matéria orgânica.
Os brigadistas, por sua vez, são moradores da região, funcionários do Condomínio que, ao receberem treinamento para atuarem como tal, voluntariamente se dedicam ao combate de incêndios, lamentavelmente tão comuns entre os meses de junho a setembro, marcados pela baixa umidade do ar, intensos ventos e escassez de chuvas.
Todos os anos o Condomínio convoca sua Brigada que fica em alerta durante o período da estiagem, 24 horas por dia. No ano passado a ação da Brigada foi decisiva ao debelar incêndios que atingiram juntos mais de 100.000 metros de extensão.

Incêndio criminoso

Há forte suspeita de que todos os incêndios que atingiram e continuam a atingir a Serra da Moeda neste mês sejam de origem criminosa.
No deflagrado no dia 24 de agosto a causa mais provável, segundo a Semad, pode ser a renovação de pastagens para o gado, como informa a subsecretária de Controle e Fiscalização Ambiental Integrada do órgão ambiental estadual, Marília Melo.
Para o voluntário José Bones, “o fato muito estranho, comentado por todos os voluntários é o incêndio renascer de grota em grota quando apagamos os focos e fomos para nossas casas descansar. Por 5 vezes, quando já estávamos desmobilizados, apareceram outros focos, em outras grotas. A sorte é que a equipe de brigadistas e voluntários voltou também por 5 vezes, de dia e de noite, nos morros e nas matas”.
No episódio no Recanto da Serra o fogo foi propositalmente ateado em 4 pontos alternados, em uma mesma rua. Contudo, as chamas foram controladas e os brigadistas permaneceram alerta, em vigília. “Assusta a proximidade com que o fogo tem chegado de casas e fazendas, na região”, diz Viviane Santos, moradora do Córrego Ferreira.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Minas é o segundo estado com maior número de focos de calor no país, este ano, totalizando 3.917. O primeiro é Mato Grosso, com 5.887. No Brasil, já foram registrados cerca de 40.000 focos. A maior parte deles, em Minas, tem origem criminosa decorrente da soltura de fogos de artifício, ou de queima irregular em terrenos.



Por Ana Amélia Lage Martins. Matéria publicada originalmente no Jornal Tribuna, setembro de 2011.