SEM ESTUDOS PRÉVIOS E CONCLUSIVOS ACERCA DA DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO EMPREENDIMENTO, O MEGAPROJETO IMOBILIÁRIO CSUL TENTA OBTER AUTORIZAÇÕES AMBIENTAIS ÀS VÉSPERAS DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA


Empreendimento imobiliário para quase 200 mil pessoas tenta obter autorização das unidades de conservação da APA SUL e Parque do Rola Moça para dar continuidade ao pedido de licença ambiental, mesmo sem estudos prévios e conclusivos acerca da disponibilidade hídrica da região.

A luta para a preservação dos recursos hídricos da Serra da Moeda - ameaçada por grandes empreendimentos minerais, industriais e urbanos – enfrenta a cada dia mais desafios. O milionário empreendimento a ser implantado em torno do Alphaville, no município de Nova Lima, denominado CSUL Lagoa dos Ingleses, embora concebido para ser totalmente sustentável, poderá se tornar um pesadelo hídrico no futuro.
Trata-se de um complexo residencial, de comércio e serviços para mais de 200 mil pessoas, na estrutura geológica conhecida como Sinclinal da Moeda, nos próximos 50 anos, numa área de 27 milhões de metros quadrados, com uma demanda de mais de 2.300.000 m3 de água por mês e investimentos estimados em aproximadamente R$ 400 milhões. A região é conhecida por ser um dos mais importantes mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), sendo a Serra da Moeda um divisor de águas entre as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba.
Como parte integrante do processo de licenciamento ambiental do complexo, a empresa precisa obter anuências dos órgãos gestores das unidades de conservação existentes na sua área de influência, que nesse caso são: o conselho gestor do Parque Estadual do Rola Moça e conselho gestor da APA SUL, órgãos colegiados responsáveis por administrar as respectivas unidades de conservação, criadas com o objetivo principal de proteger os recursos hídricos da Região Metropolitana de BH.

Parque do Rola Moça tem reunião agendada para discutir e deliberar sobre o caso


Na sede do Parque Estadual, localizado na exuberante Serra da Rola Moça - que compõe o complexo montanhoso da Serra da Moeda - será discutido o futuro de milhares de mineiros às vésperas do Dia Mundial da Água (22/03).
Prevista para ser realizada em 13/03/2017, às 14 horas, os Conselheiros que integram esse órgão ambiental deverão decidir sobre a autorização do empreendimento.
O caso vem causando divergências entre os membros dos órgãos ambientais envolvidos e tem sido objeto de preocupação de muitos conselheiros comprometidos com a missão de realmente defender o meio ambiente e recursos hídricos.
Na última reunião, realizada em fevereiro de 2017, em que se discutiu o referido projeto, o consultor da CSul respondeu que não poderia atestar de forma inequívoca que o empreendimento CSul não irá afetar os mananciais da região da Serra da Moeda, ao ser questionado pelo Conselheiro representante da Associação Comunitária do Bairro Jardim Canada, Gustavo Henrique Whykrota Tostes (áudio da reunião - 2min ).
        

Impactos hídricos desconhecidos

Segundo denúncia da ONG Abrace a Serra da Moeda, pretende-se levar adiante um megaprojeto imobiliário cujos estudos hidrogeológicos prévios não são conclusivos acerca da viabilidade hídrica do empreendimento.

Conforme parecer da Central de Apoio Técnico e Operacional (CEAT) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), emitido em inquérito civil público deflagrado pela Abrace a Serra, há equívocos graves no estudo de disponibilidade hídrica do empreendimento CSul que precisam ser sanados antes da concessão da licença prévia, especialmente com relação ao cenário de demanda hídrica atual e futura, recarga renovável, dano acumulado com outros empreendimentos, como a fábrica da Coca Cola e mineradoras, impactos da impermeabilização em zonas de recarga e os conflitos entre usuários de recursos hídricos.


SEMAD emite parecer favorável (?)

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), órgão ambiental competente, emitiu parecer favorável ao deferimento da licença prévia ambiental, não obstante reconheça que “os dados são insuficientes para definição das disponibilidades hídricas subterrâneas” (pg. 61 do Parecer Único da SEMAD). O parecer produzido pelo órgão executivo é remetido aos conselheiros ambientais, que podem ou não acolher os seus termos.

Conforme relata a advogada da ONG Abrace a Serra da Moeda, Beatriz Vignolo Silva, “o órgão ambiental estadual, de forma inconstitucional, orienta os conselheiros a exigir estudos hidrológicos apenas nas fases de licença de instalação e de operação, enquanto deveria exigi-los na fase de licença prévia”.

Protesto agendado para o dia 21/04/2017

Essa luta em defesa da sustentabilidade hídrica da RMBH é uma das principais reivindicações na 10ª edição do Abrace a Serra da Moeda, abraço simbólico que acontecerá no alto da serra de mesmo nome, em Brumadinho, no dia 21 de abril. Trata-se de uma manifestação pacífica que acontecerá no dia que representa a luta dos mineiros contra a exploração injusta das riquezas do Estado.

Com o objetivo central de conseguir a criação do Monumento Natural Estadual da Mãe D’água, esse ano o protesto também será para exigir da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) responsabilidade com a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Isso porque o órgão ambiental estadual vem se posicionando favorável à viabilidade de empreendimentos que produzem significativos impactos sobre os recursos hídricos da Serra da Moeda sem qualquer estudo conclusivo sobre a viabilidade hídrica dessas atividades.

A estimativa da ONG é de que 10 mil pessoas, entre comunidades locais, autoridades públicas, ambientalistas, esportistas, grupos culturais e amantes da natureza participem do evento. Mais informações sobre o protesto serão divulgadas em breve.