Farra e Farsa da Ferrous Resources na Serra da Moeda

A empresa Ferrous Resources do Brasil escolheu um caminho alternativo para se relacionar com as comunidades da Serra da Moeda que, desde 2008, rechaçam a execução do empreendimento minerário na Serrinha.
Ao notar o não-consetimento para executar a lavra mineral na Serra da Moeda, o que já foi reiterado por mais de dez comunidades no abraço simbólico à montanha, em Audiências Públicas e encontros com a empresa, a Ferrous optou por “comer pelas beiradas”, tanto substituindo o nome de seu projeto Serrinha para Serena, quanto mobilizando empresários, artesãos, comerciantes e profissionais ligados ao turismo na região para um possível planejamento que tenha como base a atividade turística.
Com o nome  “Desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária” ou TBC a Ferrous vem há cerca de 3 meses realizando juntamente de um grupo previamente selecionado reuniões periódicas em que os participantes discutem com a empresa, curiosamente, o turismo e não a mineração.
A culminância desses encontros aconteceu ontem, dia 14 de dezembro, numa grande festa cuidadosamente preparada pela Ferrous no Pesque Pague do Bininho, ao pé da Serra da Moeda. Uma grande feira chamada "Roda de negócios" mobilizada pela Ferrous Resources reuniu artesãos locais, donos de restaurantes, operadoras de turismo, representantes do Clube de Voo Livre, grupos de congado e capoeira e empresários da região, ou seja, um grupo sedento por iniciativas em rede que fomentem o turismo e que participou do encontro de ontem por meio de uma "gratificação" que a empresa concedeu. Ora, fazer uma grande festa em forma de feira de turismo e ainda remunerar os feirantes (que não venderam quase nada na ocasião e sim distribuiram itens para degustação do público, tudo bancado pela Ferrous) é uma iniciativa que fomenta  o protagonismo desses atores no desenvolvimento do turismo??
Ainda que mineração e turismo sejam atividades antagônicas e incompatíveis, como têm atestado as cidades de Conceição do Mato Dentro e Congonhas, hoje não mais conhecidas como destinos turísticos, mas como lugares que sofrem com a poeira, a escassez de água e a degradação da paisagem, a empresa despeja seu discurso- sempre proferido por especialistas- garantindo que irá fomentar o turismo nas comunidades da encosta da Serra.
Intermediada pela obscura empresa Compreender, a ideia de articular moradores da região para uma proposta de desenvolvimento do turismo apresenta-se como clara tentativa, por parte da empresa, de buscar legitimidade para suas atividades minerárias na Serra da Moeda, o que não foi alcançado através de reuniões com moradores das comunidades possivelmente impactadas. Ou seja, com este grande engodo travestido de iniciativa de responsabilidade social, a Ferrous intenciona, mais uma vez, a anuência ao seu empreendimento, o que é exigido pelo processo de licenciamento ambiental.
Omitindo detalhes do projeto de exploração do ferro na Serra da Moeda, a empresa agora assumiu a posição de que está ali na Serra da Moeda para incrementar o turismo local, como se a concretização do seu empreendimento em nada se relacionasse com as atividades turísticas, as quais já vêm sendo encaminhadas na região.
Vale lembrar ainda que em todas as reuniões realizadas pela Ferrous com empresários, fica veementemente proibida qualquer manifestação que questione aspectos relativos à mineração e os rumos do projeto minerário na Serrinha. Aos que tentam colocar em pauta estes assuntos, como é o caso de integrantes da ONG Abrace a Serra da Moeda e outros moradores da região, é dispensada a profunda violência simbólica do veto ao direito de expressão, tão caro à qualquer espaço que preze pela democracia.
Contudo, para bom entendedor meia palavra, ou neste caso, o silêncio, basta. As contradições são claras e se exibem, mesmo que não sejam ditas.
A principal delas está relacionada à própria natureza do possível empreendimento turístico que a Ferrous propõe.
Com a mineração na Serrinha estarão comprometidos a qualidade da água na região, a beleza cênica da Serra da Moeda, a paz e o sossego, elementos fundamentais que tornam a nossa região um destino privilegiado e que faz com ela tenha enorme potencial para o desenvolvimento do turismo. Como seria possível harmonizar a mineração ao turismo se a primeira atividade aniquila as possibilidades da segunda? Por que a Ferrous se nega a tocar em qualquer assunto que diz respeito a seu plano de mineração, tendo em vista que este transformará radicalmente a dinâmica social e o cotidiano das comunidades?
A resposta a estas perguntas está clara e óbvia aos olhos dos que realmente querem ver:  esta ação é, notoriamente, mais uma estratégia encontrada pela empresa para conseguir o seu verdadeiro intento, a mineração na Serra da Moeda e, consequentemente, lucros exorbitantes que serão escoados com a mesma velocidade com que o mineral é levado daqui.
Com a falta de êxito nas tentativas anteriores que visavam o convecimento da população para seu projeto, era de se esperar que a Ferrous apelasse para outros meios, como faz agora, com a invenção de um pretenso projeto de turismo de base comunitária que, ironicamente, não tem como base o anseio da comunidade. E o mais triste, que para se concretizar lança mão da cooptação de moradores da região para o trabalho pouco nobre do convencimento pela ludibriação.
Há, contudo, um lado positivo nessa história: o grande esforço que a empresa tem feito para se "relacionar" com as comunidades deve-se, sem nenhuma dúvida, à força da mobilização popular que, articulada em diferentes frentes tem atrapalhado, e muito, os planos da empresa. Através da articulação política pela instituição do monumento natural da Mãe D'Água, do questionamento técnico e jurídico feito ao empreendimento e da inserção da causa nos meios de comunicação, a ONG Abrace a Serra da Moeda .
mostra a força que tem a mobilização popular, uma mobilização que intenciona dar um basta à farra e à farsa da Ferrous na Serra da Moeda.