Vítimas de Brumadinho são lembradas em abraço simbólico à Serra da Moeda


Evento reuniu cerca de três mil pessoas nesta man, no Topo do MundoÁpice do protesto aconteceu, pontualmente, às 12h28, quando enorme cordão humano se formou no alto da cadeia montanhosa

Cerca de três mil pessoas participaram do 12º Abrace a Serra da Moeda, na manhã de hoje, segundo estimativas da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). O evento, tradicional no dia 21 de abril, aconteceu na região conhecida como Topo do Mundo, em Brumadinho.
Diferentemente das 11 edições anteriores, em que os participantes sempre usaram uma camisa branca, nesta, a cor preta foi escolhida pelos organizadores para simbolizar o luto pelas vítimas do rompimento das barragens de Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorrido em 25 de janeiro. O evento também foi marcado por falas de ambientalistas em repúdio ao grave crime ambiental cometido pela Vale, que até o momento já contabiliza 231 mortos e 46 desaparecidos, além da leitura de uma carta,em homenagem aos bombeiros que atuaram na tragédia, escrita pela menina Helena Silva, de 10 anos, moradora de Congonhas, região Central do estado. O texto sensibilizou a corporação na época do rompimento.
Outro momento marcante do ato público foi uma intervenção com com 32 artistas, dirigida pelo bailarino, ator e coreógrafo mineiro Tiago Gambogi, que destacou algumas cenas marcantes da tragédia de Brumadinho, entre elas o momento em que os rejeitos da barragem de Córrego do Feijão se romperammatando pessoas e destruindo toda a região ao redor, e a busca incansável dos bombeiros por corpos e sobreviventes. No final da apresentação, todos os participantes foram convidados ainteragir na performance, formando a frase Nosso Luto, nossa luta, tema do evento este ano.
O ápice do protesto aconteceu, pontualmente, às 12h28, [mesmo horário do rompimento das barragens da Vale], quando um enorme cordão humano se formou no cume da serra para simbolizar o abraço à cadeia montanhosa
Segundo a presidente da ONG Abrace a Serra da MoedaCristina Vignolo, este protesto acontece, fundamentalmente, para exigir uma mudança de rumo na condução das políticas econômicas, que vem comprometendo a capacidade de prevenir a sociedade de desastres causados por grandes empreendimentospoluidores. Mais que responsabilizar os envolvidos nesse crime, é preciso evitar que situações semelhantes sejam repetidas”, ressalta.
Além de trazer à tona o crime ambiental cometido pela Vale em Brumadinho, a 12ª edição do Abrace a Serra da Moeda continuou exigindo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), responsabilidade com a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Isso porque o órgão ambiental estadual vem se posicionando favorável à viabilidade de empreendimentos que produzem significativos impactos, especialmente na Serra da Moeda,sem qualquer estudo conclusivo acerca da viabilidade hídrica dessas atividades.
Entre esses empreendimentos denunciados pela ONG, está a fábrica da Coca-Cola FEMSAque desde a sua instalação, em meados de 2015, em Itabirito, vem reduzindo drasticamente a vazão de nascentes da regiãopara abastecer seus poços; e CSul Lagoa dos Ingleses, um megacomplexo, que será construído em torno do Alphaville, no município de Nova Lima. Segundo os ambientalistas, projeto, que ocupará uma área de 2015,30 hectares para 150 mil pessoas, em terrenos de usos mistos, multifamiliar, unifamiliar, empresarial, tecnológico, comercial, de serviços e logística, tem demanda mensal de mais de 2.300.000 m³ de água por mês, a ser retirada das nascentes da Serra. Mesmo com toda essa grandiosidade, seus responsáveis não apresentaram estudos hidrogeológicos prévios consistentes, que confirmem sua viabilidade hídrica.
As obras do CSul estão previstas para serem implantadas em quatro fases, com término estimado até 2065.